Genética

Os Erros Inatos do Metabolismo – ou doenças metabólicas hereditárias – compreendem uma grande classe de doenças genéticas envolvendo distúrbios do metabolismo. Na maioria dessas doenças, os problemas decorrem do acúmulo de substâncias tóxicas ou que interferem nas funções normais, ou são consequência da capacidade diminuída de sintetizar compostos essenciais. A incidência conjunta dessas doenças é da ordem de 1 a cada 1000-1400 nascimentos. O diagnóstico geralmente é difícil pela presença de sinais e sintomas inespecíficos, bem como pela necessidade de exames sofisticados para sua confirmação. Entretanto, a triagem neonatal para essas doenças, quando associada ao tratamento precoce, é com certeza altamente gratificante, melhorando a qualidade e prolongando a vida na maioria dessas condições hereditárias.

Acidemia Isovalérica (IVA)

A IVA ocorre quando uma enzima, chamada “isovaleril-CoA desidrogenase” encontra-se ausente ou não funciona adequadamente. A função desta enzima é degradar uma substância chamada “isovaleril-CoA”. Esta substância provém do metabolismo de um aminoácido, a leucina. Quando uma criança com IVA ingere alimentos contendo leucina, um metabólito denominado ácido isovalérico aumenta no sangue, o que causa problemas. A leucina é encontrada em todos os alimentos que contem proteínas. Se não tratados, muitos bebês podem morrer durante sua primeira crise metabólica. Naqueles que sobrevivem, crises repetidas podem causar lesões no cérebro, levando a dificuldades de aprendizagem ao longo da vida ou mesmo ao retardo mental. Na forma crônica intermitente dessa doença, os primeiros sintomas geralmente aparecem no primeiro ano de vida. Algumas crianças, entretanto, não desenvolvem sintomas até mais tarde, na infância. Crises metabólicas podem ser desencadeadas por outras doenças, infecções ou pela ingestão de grandes quantidades de proteínas. 

Quando uma criança adoece, grandes quantidades de proteínas são degradadas para produção de energia. Numa criança com IVA, essa quebra de proteínas pode causar elevação dos níveis de ácido isovalérico no sangue e resultar numa crise metabólica. 

https://www.nestlehealthscience.co.uk/vitaflo/conditions/protein%20metabolism/isovaleric%20acidaemia/home

Fibrose Cística

A Fibrose Cística (FC) é uma condição hereditária que afeta a função pulmonar, e frequentemente o trato digestivo. A FC faz com com que grande quantidade de muco espesso e viscoso seja produzido em certos órgãos do corpo, principalmente nos pulmões e no pâncreas. Quando esses órgãos se encontram bloqueados pelo muco, deixam de funcionar adequadamente. Isto resulta em problemas crônicos de saúde. Nas pessoas com FC, a presença de muco espesso nos pulmões e bronquíolos leva a infecções repetidas. Em pessoas que não tem FC, uma fina camada de muco reveste o nariz e as vias pulmonares. Este muco tem a função de aderir aos microorganismos e à poeira do ar que respiramos, levando-os para fora dos pulmões. O muco espesso encontrado na FC não executa corretamente esta função. A FC também diminui a capacidade das células do sistema imune em combater as infecções. Pessoas com FC desenvolvem tosse crônica e infecções pulmonares frequentes. Além dos problemas pulmonares, muitas crianças com FC também tem insuficiência pancreática. O pâncreas é um órgão localizado atrás do estômago, e uma de suas funções é produzir enzimas que atuam na digestão dos alimentos. Se o pâncreas encontra-se bloqueado pelo muco, as enzimas não chegam ao intestino para atuar. Sem a ação das enzimas, os alimentos não são digeridos adequadamente e os nutrientes não podem ser absorvidos para o sangue. Isso geralmente causa deficiência do crescimento e baixo ganho de peso. Também pode causar cansaço e anemia. Como a gordura não é bem absorvida, acaba sendo eliminada nas fezes, as quais se tornam volumosas, claras e com odor acentuado.

https://www.nestlehealthscience.co.uk/vitaflo/conditions/fat%20metabolism/mctprocal

Fenilcetonúria (PKU)

Atualmente existem dois produtos que podem auxiliar a reduzir os níveis de fenilalanina no sangue: Prekunil e NeoPhe. Prekunil contém grandes aminoácidos neutros que competem com a fenilalanina no intestino, limitando sua absorção a 27%, e com isso reduzindo sua concentração no sangue. Ambos os produtos permitem maior flexibilidade na dieta.

Tirosinemia Tipo 1

A Tirosinemia dos tipos I, II e III são doenças metabólicas raras, causadas pela deficiência de enzimas envolvidas na degradação do aminoácido tirosina. A Tirosinemia Tipo I é a forma mais grave, que quando não tratada pode levar à insuficiência hepática progressiva, disfunção tubular renal e risco aumentado de carcinoma hepatocelular (um tipo de tumor do fígado). Os sintomas da Tirosinemia Tipo II são alterações na pele e nos olhos, enquanto que alterações neurológicas são descritas no Tipo III. O tratamento bem sucedido é possível com a restrição dietética de tirosina e fenilalanina nas três formas da doença. Orfadin (nitisinona) é bastante eficaz na prevenção do acúmulo de substâncias tóxicas, alterando positivamente a história natural (evolução) dos pacientes com Tirosinemia Tipo I.

Doença do Xarope de Bordo (MSUD)

A Doença da Urina do Xarope de Bordo é uma doença metabólica hereditária causada pela incapacidade do organismo metabolizar adequadamente os aminoácidos de cadeia ramificada (BCAA) leucina, isoleucina e valina. O nome da doença deriva do odor adocicado característico da urina desses pacientes, que lembra o do xarope de bordo. A demora em iniciar o tratamento pode resultar em alterações neurológicas graves e às vezes fatais. O diagnóstico precoce, associado com o controle metabólico no longo prazo é essencial para minimizar o acometimento neurológico e do desenvolvimento intelectual. A leucina é considerada como o BCAA mais tóxico, e está presente nos alimentos em quantidades maiores que a isoleucina e a valina. O objetivo do tratamento dietético é manter concentrações normais dos aminoácidos de cadeia ramificada no plasma, especialmente da leucina. Isto é obtido pela restrição da ingestão de BCAA´s pelo uso de formulações especiais e alimentos dietéticos. São fornecidas quantidades suficientes desses aminoácidos para proporcionar crescimento e desenvolvimento intelectual normais. As restrições dietéticas devem ser mantidas por toda a vida, e suplementos de valina frequentemente são necessários.

Acidemia Metilmalônica (MMA)/Acidemia Propiônica (PA)

MMA e PA são doenças hereditárias nas quais o organismo é incapaz de processar adequadamente certos componentes das proteínas, como a metionina, treonina, isoleucina e valina, além de certos ácidos graxos presentes nos alimentos. Sintomas como fadiga, sonolência, vômitos e desidratação aparecem tipicamente no início da infância. Se não tratadas, a MMA e a PA podem levar ao retardo mental no longo prazo. O controle dietético envolve um planejamento alimentar pobre em proteína, com limitação dos aminoácidos metionina, treonina, isoleucina e valina.

Homocistinúria (HCU) Cistinose

A Homocistinúria (HCU) é uma alteração metabólica hereditária do aminoácido metionina, resultando em altas concentrações de metionina e homocisteína no plasma. Os sintomas da HCU incluem o deslocamento do cristalino (a lente do olho) e a formação de coágulos nas artérias e nas veias. O tratamento tem como objetivo baixar a homocisteína total, através de dieta ou medicamentos, ou ambos. A dieta implica na restrição de alimentos contendo metionina por toda a vida, e da ingestão de alimentos ricos em cistina nos pacientes que não respondem bem à piridoxina (vitamina B6). A administração de Betaína reduz os níveis de homocisteína, e o FDA a aprovou para o tratamento da homocistinúria.

 

Cistinose

Cistinose é uma doença genética caracterizada pelo acúmulo de cistina em vários órgãos e tecidos, podendo causar graves disfunções, principalmente dos rins. O tratamento da Cistinose consiste no alívio dos sintomas e na administração de cisteamina, bem como no transplante de rim nos pacientes que evoluem para insuficiência renal crônica.

Doenças do Ciclo da Ureia

O ciclo da ureia é uma via metabólica que transforma o nitrogênio (principalmente da amônia) em ureia, para ser eliminado do corpo na urina. A deficiência de qualquer uma das enzimas envolvidas no processo causa uma Doença do Ciclo da Uréia (UCD) específica. Existem seis UCD´s diferentes, a maioria resultando em acúmulo de amônia no organismo, com graves consequências, potencialmente fatais. A imediata identificação e pronto tratamento dos níveis altos de amônia (hiperamonemia) é vital. O tratamento das doenças do ciclo da ureia consiste em dieta para limitar a produção de amônia, em conjunto com medicamentos e/ou suplementos alimentares que auxiliam a remoção da amônia do sangue. O tratamento pode incluir suplementação com fórmulas especiais de aminoácidos, desenvolvidas especificamente para doenças do ciclo da ureia, que podem prover aproximadamente 50% da ingestão diária de proteínas. Alguns pacientes podem necessitar suplementação com aminoácidos de cadeia ramificada. O Fenilbutirato de Sódio (Buphenyl) é o medicamento de primeira escolha para o tratamento das UCD’s. Ele cria uma rota alternativa para a excreção dos precursores do nitrogenio.

Acidúria Orótica

Acidúria orótica hereditária é uma condição que ocorre quando o organismo não é capaz de produzir uma enzima chamada UMP sintetase, que atua na síntese do DNA. Os principais sintomas da doença incluem a anemia megaloblástica e retardo do desenvolvimento físico e intelectual. A acidúria orótica é causada pela herança de alterações (mutações) no gene da UMPS. O tratamento consiste em suplementos de uma substância chamada uridina.